segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Livro: Irmãos

Título: Irmãos
Título original: 兄弟 (Xiōng Dì)
Autor: Yu Hua
Tradutor: Donaldson M. Garschagen
Editora: Companhia das Letras

Quase sempre que leio um livro que abrange a maior parte da vida de um personagem, acabo gostando mais do início e desanimando à medida que a vida adulta vai se desenvolvendo. Este foi o caso de Irmãos, que acompanha a trajetória de dois irmãos em uma pequena cidade chinesa. Apesar de não ligados pelo sangue, Li Carequinha e Song Gang se tornam irmãos quando a mãe do primeiro se casa com o pai do segundo. Li Carequinha é malandro e esperto, enquanto Song Gang é tranquilo e gentil. Apesar das diferenças, eles logo se tornam inseparáveis e enfrentam juntos as dificuldades que surgem em seu caminho. 

No plano de fundo, o livro traça um panorama da história da China nos últimos quarenta anos. Da Revolução Cultural de Mao, que afeta profundamente a família dos dois garotos, à chegada do capitalismo, que provoca uma grande transformação na cidade onde vivem e propicia a Li Carequinha o ambiente perfeito para ele "vencer na vida".

O romance tem um tom leve, bastante "anedótico", com muitas situações cômicas. Os personagens são carismáticos, mas não espere um bom desenvolvimento da maioria deles. Com a exceção do núcleo principal, o resto é bem plano, alguns até caricatos, o que não é um problema porque eles funcionam bem dentro da narrativa.

O humor do livro é um de seus pontos fortes, mas também um de seus pontos fracos. É um humor simples, com algumas piadas bem bobas até, mas ele me rendeu muitas risadas (ok, não cheguei a rir alto, mas ri por dentro, serve?) devido às situações absurdas e aos personagens sem noção. No entanto, com o passar do tempo, certos exageros e repetições presentes ali só para fazerem rir se tornam cansativos, e o humor foi ficando cada vez mais forçado e até meio ofensivo.

Aí é que reside a minha frustração com o livro. A primeira metade da história realmente me conquistou. Eu virava as páginas e mal via o tempo passar, rindo e me emocionando até quase chorar (o tom cômico predomina no livro, mas ele também oferece uma boa dose de tragédia). No entanto, quando os dois irmãos começam a seguir caminhos diferentes a coisa desanda e vai ficando cada vez mais absurda. Não consigo ver o motivo para a presença de certos acontecimentos na trama (Concurso da Beleza Virginal? Sério?) e o absurdo dos eventos deixou de me fazer rir para me fazer erguer as sobrancelhas de incredulidade. Sei que muito do livro é crítica social e que o exagero esteve presente na narrativa desde o começo, mas não consigo deixar de me lamentar pela perda de rumo do livro que eu estava amando tanto.

Ainda assim, não posso dizer que não gostei de Irmãos. Sim, o humor escrachado nem sempre funciona. Sim, ele tem muitos problemas e pode ser bem ofensivo para o leitor mais sensível/politicamente correto. Sim, eu queria bater no Li Carequinha durante boa parte da metade final. Mas mesmo durante os momentos que comentei, continuei interessada na história e nos personagens. E a metade inicial maravilhosa compensa boa parte dos problemas. 

Livro lido para o Desafio Skoob (autor asiático) e para o Desafio Livrada! (romance de formação).

4 comentários:

  1. Quando vi a cada e o título do livro até fiquei interessada, mas após ler suas opiniões já não acho mais que o livro me agradaria tanto.
    Aliás, ri no "(ok, não cheguei a rir alto, mas ri por dentro, serve?)", mas por dentro também hahahah

    http://magoevidro.blogspot.com

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    1. Talvez você se interesse mais pelos outros livros do autor. Li "Crônica de um vendedor de sangue", que mantém o fundo histórico, o humor e a tragédia, mas de maneira bem dosada. Acho que o problema de "Irmãos" foi o exagero mesmo.

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  2. Ah, que pena que desandou no final! Tenho esse livro em casa e nunca imaginei que ele tivesse essa pegada de humor. Como não sou do time dos livros engraçados, se ele conseguir me fazer rir por dentro já está ótimo ;)
    bjo

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    1. Eu também imaginava que o livro fosse mais sério, pelo fundo histórico e tal. Também não sou muito fã de livros engraçados, mas em geral gosto do humor do autor quando ele não exagera demais.

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