sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Desafio literário - Desorientais

Título: Desorientais
Autora: Alice Ruiz S
Editora: Iluminuras

Meu terceiro livro de poesia do mês e o segundo de haicais. A verdade é que eu, que desdenhava dessa forma poética por seu aspecto "qualquer um pode fazer igual", acabei gostando de haicais. Ainda não é algo que eu leria por pura e espontânea vontade, sem nenhum estímulo externo, mas é algo que dá para ler com prazer. Talvez o que eu tenha gostado mais neles, além da brevidade e da aparente descomplicação, é o olhar por vezes inusitado do poeta sobre um cena, um detalhe, e tudo o que o haicai apenas sugere e deixa para você imaginar.

"Desorientais" é dividido em três partes. A primeira reúne haicais mais tradicionais, em geral sobre a natureza, a segunda é de poemas dedicados a alguém ou escritos em conjunto, e a última é de poemas amorosos.

Achei os haicais de "Desorientais" mais elaborados que os de "Janelas e tempo", menos tradicionais, mais ousados; mas no geral acho que gostei mais do "Janelas". Ou não.

Aqui uma breve seleção de haicais de que gostei:

mosquito morto
sobre poemas
asas e penas

varal vazio
um só fio
lua ao meio

entre uma estrela
e um vagalume
o sol se põe

flor de estrada
um pouco mais de vento
flor na estrada

noite cheia
lua minguante
meu quarto crescente

felicidade
todos os sentidos
num só leque

lá o sol vai
ali a lua vem
e você nem isso

lembra aquele beijo
corpo alma e mente?
pois eu esqueci completamente

por você
eu esperava
por mim não

Essa foi minha última leitura do DL 2012. Foi uma boa jornada e consegui completar tudo, mesmo com os percalços e leituras atrasadas. Depois escreverei um post de encerramento sobre o DL (a.k.a. lista de melhores e piores leituras).

Nos vemos no desafio do ano que vem!

dia que termina
nenhuma pressa
ano que começa 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Desafio literário - Junho - A máquina do tempo

Título: A máquina do tempo
Autor: H.G. Wells
Editora: Nova Alexandria

Mais uma resenha atrasadíssima, desta vez do tema de junho, viagem no tempo. Não é um tema que me empolgue muito e por isso acabei não me esforçando muito em junho, porque já estava sobrecarregada com os trabalhos para a faculdade e não queria mais preocupações.

Escolhi "A máquina do tempo" porque faz tempo que queria ler algo do Wells e esse se encaixava no tema. Ele conta sobre as experiências do Viajante do Tempo em sua viagem ao futuro, em que ele esperava encontrar uma civilização evoluída, mas se depara com duas raças descendentes dos humanos, os Eloi e os Morlock, muito diferentes de tudo que o Viajante esperava a princípio.

O começo do livro não me empolgou muito, o primeiro capítulo era um tanto científico para o meu gosto, mas da metade em diante, a coisa foi ficando boa, muito boa. Gostei muito do futuro imaginado por Wells e de como o Viajante foi descobrindo e interpretando aos poucos o que via. 

Resumindo: valeu a pena correr atrás do livro agora em dezembro. ;)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Desafio Literário - Livro dos sonetos

Título: Livro dos sonetos
Autor: Organização de Sergio Faraco
Editora: L&PM

Mais uma vez me aproveito dos livros que minha irmã teve que ler na escola em um passado quase remoto. Não pretendia ler esse, mas quando fui pegar o "Janelas e tempo", achei-o lá no armário e pensei "por que não?".

O livro reúne sonetos portugueses e brasileiros, de 1500 a 1900. Há poemas de autores como Camões, Fernando pessoa, Augusto dos Anjos, Florbela Espanca, Tomás Antônio Gonzaga, Sá de Miranda, Camilo Pessanha, etc. E a maioria versa sobre temas tradicionais da lírica: amor, amor, amor...

Não gosto muito de poesia, muito menos em uma forma engessada como o soneto, e se pudesse optar por um corte temporal, escolheria poemas do Modernismo até o presente, e não 1500-1900. Então, é, não gostei muito do livro. Fiz uma leitura superficial da maioria dos poemas e só gostei mesmo de três ou quatro deles, em geral os mais pessimistas e depressivos da seleção.

Aqui um poema que gostei e que talvez vocês conheçam, que tinha que ser do Augusto dos Anjos, um dos poucos poetas anteriores ao Modernismo que eu gosto (o outro seria o John Donne, talvez):

Versos Íntimos


Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!




Desafio Literário - Julho - O coronel e o lobisomem

Título: O coronel e o lobisomem
Autor: José Cândido de Carvalho
Editora: José Olympio

Resenha super atrasada, eu sei, mas tive que interromper essa leitura em julho e só pude retomar agora. O livro acabou prejudicado por isso, pois voltei a ele sem lembrar direito das coisas e acabei não gostando tanto quanto poderia gostar. Felizmente ele é mais ou menos episódico, o que tornou a leitura descontinuada mais fácil.

"O coronel e o lobisomem" venceu o prêmio Jabuti de romance de 1965. Ele conta as aventuras do coronel Ponciano de Azeredo Furtado, fazendeiro de Campos dos Goitacazes, homem valente e orgulhoso, que gosta de contar vantagem e se mete em confusão com onças, lobisomem a até sereia. 

O livro tem o tom de uma conversa, de uma contação de causos (muitos deles beirando o absurdo). A linguagem remete a oralidade e tem suas doses de invencionices. É bem divertido, mas recomendo apenas para aqueles que possam ler de uma vez só, sem intervalos de cinco meses no meio.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Desafio literário - Janelas e Tempo

Título: Janelas e Tempo
Autora: Teruko Oda
Editora: Escrituras

Não costumo ler poesia, então minha escolha deste mês se baseou na facilidade. Queria algo leve e que eu tivesse em casa. "Janelas e tempo" é um livro curtinho de haicais que minha irmã teve que ler para a escola, na 4ª série. Uma boa opção para mim.

Para aqueles que não sabem ou não lembram, haicais são poemas japoneses de apenas três versos. Roubando um pedaço da introdução do livro: "Diferente da poesia ocidental, o haicai não informa, não explica, não mostra tudo. É poesia predominantemente sugestiva, de efeito sensorial. A cena haicaística procura mostrar apenas o suficiente para possibilitar ao leitor a possibilidade de completá-la através de evocações poéticas próprias" (p. 9-10). Nesse livro a autora reflete sobre como uma questão fundamental para o haicai japonês, o ciclo da natureza, pode ser ser transferida para o ambiente brasileiro, sem estações bem definidas. 

O resultado são haicais variados, sobre a noite, o dia, o mar, o vento. Em vários a contemplação se resume à natureza, mas há alguns que olham para o humano nessa natureza, e eu gostei disso, do tom levemente crítico, das visões do cotidiano, da atenção aos detalhes.

Selecionei alguns haicais para vocês lerem:

Final de dezembro -
Sacolas pedem passagem
no metrô lotado.

Num lento encolher
os dias se acumulando - 
Outono fenece.

Só não vendem almas
na porta do cemitério - 
Dia de Finados

Nos degraus da igreja
farto almoço de Natal
Pombos e mendigos.

No baú dos sonhos
definir prioridades - 
Manhã de Ano Novo.

Manhã de inverno - 
Uma passarinho molhado
morto no quintal.

Praia de inverno - 
A indefinível solidão
da areia sem dono.

Olhando assim, dá para ver que os haicais são simples, o tipo de coisa que você pensa, "ah, eu consigo fazer um também", e consegue mesmo. Isso foi o que mais gostei na leitura, é simples e acessível, e pode inspirar o leitor a elaborar seus próprios haicais.