Autor: David Mitchell
Editora: Sceptre
Não costumo resenhar livros que não façam parte de algum desafio, porque sou preguiçosa e resenhas nem sempre saem com facilidade. Mas Cloud Atlas foi dessas leituras que me deixou encafifada, então uma resenha seria legal para dar uma organizada nas ideias (ou na falta delas).
Tenho esse livro há um tempão e vinha adiando a leitura porque tenho preguiça de ler livros longos em inglês, e esse em especial parecia ter uma trama estranha, com potencial para eu não gostar. Então por que tenho esse livro? Porque minha mãe me deu, em uma das compras impulsivas dela de "ouvi falar bem desse livro, quer?". No início eu estava com bastante vontade de ler, mas aí saiu o filme, que (pelo trailer) não tem cara de filme que eu assistiria, e desanimei.
Comecei a leitura com expectativas baixas, que corresponderam à realidade nas vinte primeiras páginas. A partir daí o livro começou a me fisgar, apesar de desanimar em certos momentos.
Cloud Atlas consiste em seis histórias completamente diferentes, a partir do século 19 até um futuro pós-apocalíptico. Os gêneros também são variados: diário de viagem, cartas, entrevista. O livro é organizado como um sanduíche (?), a primeira história volta a aparecer no final, a segunda também é a penúltima etc. Com histórias tão diferentes entre si, é óbvio que umas vão agradar mais e outras menos, mas pelo menos duas delas eu considerei excelentes (as hilárias aventuras do editor Timothy Cavendish e o universo futurista de Somni~451) e duas foram bem arrastadas.
Há elementos comuns entre as narrativas, mas eu não os considerei suficientes para formar um todo coeso, e foi aí que o livro me decepcionou. Li que o autor usou como tema comum entre as histórias a predação humana e, apesar de isso ser desenvolvido em todas elas, não é algo que fique tão evidente assim. Também há um indício de que o livro falará sobre reencarnação, mas felizmente isso é pouco abordado. Não sei muito bem o que eu esperava que conectasse as histórias, só sei que eu esperava mais.
Para mim, o grande mérito do autor nesse livro foi a capacidade de criar diferentes estilos para cada narrador. Há muitos autores que usam narradores diferentes mas não conseguem apagar seu estilo pessoal e tudo acaba uniformizado, já Mitchell foi habilidoso em criar vozes distintas para seus narradores, perfeitamente adaptadas aos gêneros textuais utilizados.
Cloud Atlas acabou sendo uma surpresa e uma decepção, e me deixou meio confusa, o que sempre é bom. Gostei bastante da escrita do autor e fiquei curiosa para conhecer suas outras obras, especialmente porque várias são ambientadas no Japão.
O livro foi adaptado para o cinema e saiu aqui com o nome genérico de A Viagem. Até onde sei, ainda não há edição brasileira do livro.