sexta-feira, 13 de maio de 2016

Mangá: A Drifting Life

Título: A Drifting Life
Título original: Gekiga Hyouryuu
Autor: Yoshihiro Tatsumi
Tradutor: Taro Nettleton
Editora: Drawn & Quarterly Publications (Canadá)
Ano de publicação dessa edição: 2009 (publicado no Japão em 2008)

Não costumo ler biografias e memórias. Tenho esse preconceito bobo de que, na literatura, se uma história é real, ela perde parte da graça. Porém os quadrinhos biográficos estão aí para me fazer rever meus conceitos. Retalhos, Persépolis, Maus, Cicatrizes. Todos apresentam ótimas histórias sem ficar com muita cara de fatos reais. Por isso, decidi encarar A Drifting Life, mangá autobiográfico de Yoshihiro Tatsumi.

Tatsumi (1935-2015) foi um autor de mangá conhecido por ter cunhado o termo "gekiga" (figuras dramáticas). Em uma época em que o que predominava no mercado eram os mangás cômicos e infantis, Tatsumi e outros artistas passaram a usar o termo para diferenciar suas obras, mais sérias, realistas e adultas, do resto. Posteriormente, o gekiga se popularizou, influenciando até grandes nomes como Osamu Tezuka e dando origem ao que foi chamado de "Era de Ouro do Mangá". Hoje essa influência é menor, mais notável nos mangás seinen e nas obras menos comerciais.

A Drifting Life mostra a formação de Tatsumi como artista: sua paixão pelos mangás do Tezuka; as primeiras tirinhas que enviou para revistas; o companheirismo e as brigas com o irmão, que compartilhava com ele a paixão pelos quadrinhos; suas primeiras histórias publicadas; a formação da revista Shadow, coletânea de histórias curtas adultas; a luta para sobreviver de mangá e para entregar os trabalhos no prazo; e o mais importante, a formação de um novo estilo de mangá, o gekiga. Permeando sua vida pessoal, o livro também mostra os acontecimentos históricos (o mangá se inicia logo após a rendição do Japão na Segunda Guerra), inovações tecnológicas e tendências culturais da época.

Como qualquer obra biográfica, o livro é mais interessante para quem é familiarizado com o trabalho do autor e com os artistas e mangás da época. Como não manjo nada de mangás antigos, fiquei um pouco perdida quando nomes eram citados, mas o que realmente me fez falta foi saber como eram os mangás mainstream da época e como a obra de Tatsumi e seus colegas se diferenciava deles. O livro mostra algumas das inovações e influências que esses autores trouxeram, como um estilo mais cinematográfico, por exemplo, mas achei que ficou um pouco vago. Provavelmente o leitor japonês ou o aficionado por mangás não teria esse problema. De qualquer maneira, fiquei curiosa para conhecer as obras deles. (Mas vou atrás? Provavelmente não).

Também achei que o livro poderia mergulhar mais fundo na obra e na vida de Tatsumi. O autor adota um tom factual que dá certa frieza ao livro, principalmente mais para o final, que foca no mercado editorial de mangás e na rotina dos autores para manter os trabalhos em dia, além da discussão sobre o gekiga. Eu queria um pouco mais de relacionamentos humanos e de motivações internas, queria sentir a paixão que o protagonista e seus colegas têm pelo mangá, mas em grande parte do tempo o que o livro oferece é uma sucessão de fatos, o que se tornou meio entediante depois de um tempo.

Apesar de não ser o quadrinho autobiográfico mais caloroso, emocionante e envolvente que há por aí, A Drifting Life é uma obra bastante interessante. Para quem gosta de mangás, ela é uma grande aula sobre essa mídia e o mercado no período do pós-guerra. E para quem não gosta, bem, suponho que não seja o livro mais adequado, mas ainda assim dá para se divertir.


Livro lido antecipadamente para o Desafio Skoob (agosto: biografia)

2 comentários:

  1. Oi, Lígia! Puxa, resenha muito legal!

    Pessoalmente, associo "gekiga" a histórias meio louquinhas e estupro e violência, já que também não sei nada do aspecto mais técnico da coisa. Por isso acabo não procurando mais coisa - e no Brasil só recebemos Lobo Solitário, acho.

    As últimas páginas que você postou são muito bonitas e um pouco emocionantes de se ler. :)

    Abraços!

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    1. Oi, Monsair! Em geral, acho que gekiga não é muito a minha praia, mas tenho curiosidade em ler obras do tipo.

      Também acho o trecho da foto que mostrei muito bonito. Gostaria que o mangá tivesse mais dessa atmosfera reflexiva e onírica.

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