Autora: NoViolet Bulawayo
Editora: Biblioteca Azul
Darling vive no Paraíso, uma espécie de favela em Harare onde se juntaram os desabrigados que tiveram suas casas demolidas durante o governo de Mugabe. Como as escolas estão fechadas, ela passa o dia ao lado dos amigos em brincadeiras infantis, subindo em árvores, brincando de procurar o Bin Laden, roubando goiabas no bairro rico dos brancos e sonhando em ir para os EUA, onde vive uma tia. Na segunda parte do romance, Darling finalmente realiza esse sonho, mas percebe que nem tudo era como ela imaginava e tem de se adaptar, lidar com a saudade e criar uma nova vida para si, cada vez mais distante de sua terra natal.
Eu gostei do livro, mas esperava gostar mais. Apesar de ser uma história interessante escrita em um estilo agradável e narrada na voz de uma criança, que em geral é algo que sempre me conquista, o livro não me prendeu, e fiquei um tempo sem saber direito por quê. Agora percebo que um dos motivos é porque o romance aborda assuntos demais, de forma episódica, sem se aprofundar em quase nada. Da perspectiva inocente de Darling, vemos acontecimentos históricos e políticos (que não ficaram muito claros para mim, porque meu conhecimento da história do Zimbábue é quase zero), críticas à religião, referências à epidemia de AIDS e à inflação e, mais tarde, questões sobre a vida dos imigrantes nos EUA, sobre identidade e linguagem. Minha impressão é que a autora tentou abordar todos os problemas do Zimbábue e, depois, da vida de imigrantes sem desenvolver direito nenhum deles. É uma visão panorâmica que torna difícil o apego do leitor a personagens e acontecimentos.
Dito isso, ainda acho que a leitura vale a pena. Não é tudo o que eu esperava, mas é uma boa para quem quer conhecer mais da literatura do país.