Shoukoujo Sara
Diretor: Fumio Kurokawa
Estúdio: Nippon Animation
Ano: 1985
Faz bastante tempo que eu tinha vontade de assistir a algum anime do World Masterpiece Theater (ou Sekai Meisaku Gekijō), tradicional série de desenhos infantis baseados em clássicos da literatura, como Anne of Green Gables, Heidi, Moomins e Pollyana. Essa série começou a ser exibida no Japão em 1969 e durou até 1997, sendo retomada de 2007 a 2009. Muitos de seus animes são bastante aclamados e fizeram sucesso em outros países, e alguns contam com grandes nomes na produção, como Hayao Miyazaki e Isao Takahata.
Para começar, o escolhido foi Shoukoujo Sara, adaptação do romance A princesinha de Frances Hodgson Burnett, porque sou fã da autora e tenho toda uma história com o livro. O anime é protagonizado por Sara Crewe, uma garota inteligente e gentil que vivia na Índia e se muda para a Inglaterra para estudar em um internato. Como seu pai é muito rico, ela recebe tratamento diferenciado por parte da diretora, o que provoca a inveja de algumas alunas. No entanto, o pai morre misteriosamente e a garota perde todo seu dinheiro e posses, passando a trabalhar como criada no internato. A diretora, que a via como a galinha dos ovos de ouro, agora a vê como um fardo indesejável e passa as tarefas mais pesadas para ela. As colegas invejosas não perdem a chance de maltratá-la. Porém, Sara suporta as adversidades com a cabeça erguida, sem reclamar, e sua bondade conquista as pessoas ao seu redor.
O anime é bastante fiel à essência do livro, mas, como transforma um pouco mais de duzentas páginas em 46 episódios, ele adiciona muita coisa na história. Por ser uma série antiga, da época em que animes tinham temporadas longas e caminhavam em um ritmo bem mais lento que a média atual, o desenvolvimento demora um pouco para acontecer e há bastante repetição. Essa repetição significa sofrimento e mais sofrimento para a pobre Sara, o que cansa bastante. Por outro lado, o anime faz um bom trabalho na construção do drama, balanceando a tristeza com algumas cenas singelas e efêmeras de felicidade, tornando tudo mais suportável.
Sara e Becky |
Os personagens são bastante unidimensionais. Quem é bom é extremamente bom e quem é mau é extremamente mau. Claro, isso não faz deles personagens ruins, porque eles funcionam bem dentro da narrativa.
Do grupinho do bem, não sou a maior fã da Sara, a típica personagem perfeitinha demais, embora às vezes eu goste de algumas de suas atitudes e simpatize com ela. Minha preferida é a Becky, uma menina pobre que passa a trabalhar no internato para ajudar a sustentar a família. Meio desajeitada, ela sempre leva bronca dos outros empregados. Sara sempre a tratou bem e, quando se torna empregada, as duas passam a trabalhar lado a lado e desenvolvem uma forte amizade. Essa amizade é uma das coisas mais bonitas do anime, e, enquanto assistia, torci muito para que elas não fossem forçadas a se separar.
Lavínia sendo questionada |
Os vilões da história estão lá para serem odiados. Tanto a diretora quanto Lavínia, a aluna invejosa, são vilãs da pior estirpe, maldosas e mesquinhas. A diretora ainda tem um episódio para revelar seu passado e tentar explicar seu comportamento, mas isso não é muito convincente. No final, o anime desvia um pouco da história do livro e tenta nos fazer engolir uma pseudorredenção para elas, o que achei bem forçado e inverossímil.
Quanto aos aspectos técnicos, o anime não tem nada de muito extraordinário. O desenho dos personagens não é dos mais bonitos, mas os cenários são agradáveis. A abertura e o encerramento soam um tanto datados, mas foram me conquistando aos poucos (principalmente o encerramento), e a trilha sonora é bem feita, com alguns temas gostosos de ouvir.
Em suma, Shoukoujo Sara é um anime agradável de se assistir, principalmente se você gosta de drama, drama e mais drama, com muito sofrimento pelo caminho. Sim, ele se estende demais, o final deixa a desejar e é difícil suportar alguns dos personagens, mas no geral achei que a jornada valeu a pena. Como eu ainda não tinha assistido a nenhum anime tão antigo e a nenhum dos World Masterpiece Theater, foi uma experiência interessante, e agora já sei mais ou menos o que esperar dos próximos que eu ver.
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