Autor: E.T.A. Hoffman
Editora: Estação Liberdade
Nesse livro, Murr, um gato autodidata, inteligentíssimo e bastante convencido, escreve suas memórias. No entanto, devido a uma confusão durante o processo editorial, o livro foi publicado com parte da biografia de Johannes Kreisler, compositor e mestre de capela na corte, que Murr usou como papel rascunho enquanto escrevia sua obra. Ou seja, temos trechos da história de Murr cortados abruptamente pelos trechos sobre Kreisler, que então são cortados abruptamente pela história de Murr e por aí vai. Isso torna o texto bastante diferente do que costumamos ler e muito moderno para a época, mas bastante frustrante para o leitor, sempre interrompido assim que começa a se envolver com a história. Para piorar, o livro não foi finalizado e, apesar de a história de Murr terminar em um bom ponto, Kreisler é abandonado em plena ação.
Gostei bastante da história de Murr. O fato de ter um gato narrador foi o que me atraiu no livro, porque eu adoro Eu sou um gato e achei que esse seguiria mais ou menos a mesma linha. De fato, Murr observa a sociedade humana com algum sarcasmo e se julga superior, como o gato de Soseki, mas boa parte de sua história é voltada para suas aventuras mundanas entre os amigos bichanos e o amigo canino, os relacionamentos amorosos e à sua busca por erudição. A personalidade de Murr é bem intragável, mas sua vida é bastante divertida e seu estilo de narrar lembra bastante A vida e as opiniões de Tristram Shandy.
Já a história de Kreisler foi bastante maçante para mim (e confusa para caramba) e meio que estragou a experiência de leitura em geral. Kreisler é um personagem excêntrico em meio a personagens excêntricos, conspirações, histórias de amor, tentativas de assassinato, princesas sensíveis e príncipes mal-intencionados. Enquanto com Murr nós temos uma narrativa linear, aqui temos saltos temporais, porque, afinal, essa parte do livro só está aí porque alguém vacilou no processo editorial e estragou a grande obra do Murr. Admito que achei muito difícil me situar nessa parte da narrativa, que não só está incompleta, como ainda tem um monte de personagens dos quais eu sempre me esquecia.
Concluindo: Reflexões do gato Murr é um desses livros antigos com estrutura moderna que vale a pena se você tiver certa paciência. Ler só pelo gato em si talvez não seja uma experiência das mais recompensadoras.
Ligia,
ResponderExcluirQue interessante e diferente esse livro.
Só pelo que você falou e pelo que conheço de gatos já consigo imaginar como deve ser a personalidade desse narrador, temos uma gata em casa e costumamos dizer que ela acha que ela é a rainha e nós os seus súditos...rsrs...
Vou procurar esse livro.
Abraços,
Dani Moraes
Sim, ele é um gato bem cheio de si e é engraçado ler o que ele escreve, porque apesar de se achar tão superior, ele tem uns momentos bem patéticos.
ExcluirFiquei curiosa por ser um gato contando a história, mas depois de ler sua resenha desisti de ler. Eu sei que é um livro antigo e tudo mais, mas os pobres gatos já sofrem tanto preconceito, que um personagem gato insuportável não ajuda em nada aos bichanos em melhorar sua imagem. E eles são tão queridos! Então vou acabar não lendo, por pura pirraça mesmo! :P
ResponderExcluirEu até gosto da personalidade clichê dos personagens gatos, sempre com o ego nas alturas, porque acaba sendo divertido, mas entendo o seu ponto de vista. :)
ExcluirTenho curiosidade de ler esse romance do Hoffman só por ter o gato como narrador ^_^ Natsume Soseki <3
ResponderExcluirGatos são os melhores narradores :3
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