Título: Yuri!!! on ICE (ユーリ!!! on ICE)
Diretora: Sayo Yamamoto
Estúdio: MAPPA
Ano: 2016
Nº de episódios: 12
Fiquei muito animada assim que Yuri!!! on Ice foi anunciado. Como boa fã de patinação no gelo, não pude deixar de desejar que a série fizesse jus ao esporte e apresentasse toda a beleza, os dramas e as dificuldades da patinação. Porém, como fã de anime, já fui baixando as expectativas, porque sei muito bem que tem muito anime lixo por aí. À medida que a estreia se aproximava e mais informações foram divulgadas, foi difícil não entrar no hype: a diretora tinha um currículo de respeito (descobri inclusive que ela dirigiu o meu episódio preferido de Samurai Champloo!), o Kenji Miyamoto, coreógrafo muito conhecido no Japão, ficou responsável por criar os programas dos personagens e, mais importante, o PV mostrava animação de qualidade e ótima música.
Yuri!!! on Ice é focado no patinador japonês Yuri Katsuki. Após finalmente se classificar para o Grand Prix Final, ele sofre uma enorme derrota e termina a competição em último lugar. Desestabilizado, ele retorna para sua cidade natal para pensar no futuro. Aos 23 anos, ele já não é mais tão jovem para o esporte e talvez estivesse na hora de começar a pensar na aposentadoria. No entanto, quando um vídeo dele patinando um programa do multicampeão russo Victor Nikiforov cai na internet e se torna viral, tudo muda. O próprio Victor se impressiona com a apresentação e aparece de repente na cidade de Yuri, se oferecendo para ser seu técnico. Yuri aceita e os dois iniciam sua jornada rumo ao próximo Grand Prix Final.
Agora que o anime terminou, fica a pergunta: ele correspondeu às expectativas? Eu diria que sim, ele até as superou em alguns aspectos. Por outro lado, fiquei decepcionada com algumas coisas. Vai ser difícil escrever sobre todos os pontos que eu gostaria de falar e já peço perdão de antemão pelo texto longo e confuso, mas vamos lá.
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Yuri |
Começando pelos protagonistas, que são bastante interessantes e têm um bom desenvolvimento durante a série. Nos primeiros episódios, Yuri é um jovem inseguro, que perde as competições não por falta de talento e sim porque não é capaz de aguentar a pressão. Com Victor ao seu lado, Yuri aos poucos vai se tornando mais confiante, e o anime constrói isso de forma natural. Já Victor exala confiança e venceu tudo o que tinha para vencer na patinação, mas encontra desafios em seu novo papel como técnico.
Os dois desenvolvem um relacionamento amoroso que chacoalhou a internet, gerando muitas reações, polêmicas e cenas analisadas à exaustão pelas fãs. Como muitos animes com relacionamentos homoafetivos, YOI deixa tudo subentendido, embora seja muito difícil dizer que não há nenhum romance entre os dois. Os gestos de carinho, a proximidade entre eles, tudo indica que eles estão namorando, mas a série sempre deixa algo no ar, e isso é um pouco frustrante. Por outro lado, são poucos os animes com protagonistas LGBT+ fora do nicho yaoi/yuri, então ponto para Yuri!!! on ice.
Admito que no começo não gostava muito do relacionamento dos dois, porque o Victor era aquele tipo de personagem impositivo que ficava invadindo a área pessoal do Yuri com gestos e palavras ousados e deixava o pobre menino constrangido. (Talvez também não tenha gostado porque relacionamentos entre técnicos e pupilos sempre me fazem pensar no Nikolai Morozov, técnico russo que namorou muitas de suas alunas jovenzinhas, hahaha). Porém, com o passar do tempo, o Yuri vai se tornando mais confiante não só na patinação, mas no relacionamento com o Victor, e achei isso lindo.
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O amor é lindo |
O anime apresenta um bom número de personagens secundários carismáticos e divertidos, mas que tiveram pouco tempo de tela para ter um desenvolvimento decente. A decisão de apresentar os rivais de Yuri por meio das performances deles no gelo foi interessante, porque isso mostra o estilo de cada um, a motivação para patinar, os pontos fortes e as dificuldades. Por outro lado, isso ocupa tempo demais em um anime de apenas 12 episódios, tempo que poderia ser dedicado a desenvolver melhor os dramas dos protagonistas, porque um dos grandes problemas de YOI na minha opinião é que foi tudo muito corrido. Sim, esse é um anime de esporte e, portanto, tem que apresentar os rivais e mostrar suas apresentações, mas se não temos tempo suficiente para nos importarmos com eles, por que vamos querer assistir a dezenas de apresentações?
E aí você diz, "Mas Lígia, você gosta de patinação e assiste um monte de competições com um monte de patinador que você não conhece direito ou não gosta muito, não é a mesma coisa?". E eu respondo que não, porque a patinação em YOI deixou um pouco a desejar. As coreografias são boas, as músicas são um tanto inusitadas (falo disso mais tarde), os figurinos são bastante fieis aos figurinos da patinação real (para o bem ou para o mal), mas mesmo quando a animação estava decente ela ainda não conseguiu captar plenamente a força da patinação no gelo real. Falta peso aos patinadores animados, falta mostrar melhor o contato com o gelo. E claro, muitas vezes a animação estava longe de ser boa, deixando os personagens estranhamente deformados. Também há a questão de que as competições aqui não têm como ser imprevisíveis como as reais, porque são reféns da narrativa, então sabemos que quando um patinador for muito mal no programa curto, ele terá alguma redenção no futuro, que não precisamos nos preocupar muito com o protagonista porque no final ele vai conseguir dominar os nervos e fazer uma apresentação digna. E uma das coisas que mais gosto na patinação é a imprevisibilidade (talvez por isso eu goste mais da categoria masculina, cheia de tombos).
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Prontos para a batalha! |
Sobre a parte técnica, não tenho muito a dizer além de que a animação sofreu um pouco nos episódios do meio e que fiquei muito surpresa ao ver que quase todos os programas dos personagens usavam músicas originais em vez das músicas batidas de sempre. Fui assistir imaginando mais uma Carmen, mais um Lago dos Cisnes, mais um Turandot, mas encontrei uma boa variedade de músicas novas, algumas mais para o clássico, outras mais para o pop, algumas meio latinas, outras meio musical da Broadway. Parabéns para os envolvidos.
Como comentei antes, o enredo do anime foi um tanto corrido e sofreu bastante para caber em apenas 12 episódios. Assim, certos acontecimentos que deveriam ter grande peso na história não tiveram o tempo devido para impactar o espectador como deveriam, alguns problemas tiveram soluções um pouco forçadas e muitos personagens menores foram jogados para escanteio. Como possivelmente teremos uma segunda temporada, espero que eles explorem melhor o que ficou faltando nesses primeiros episódios.
Apesar das críticas que fiz acima, YOI é incrivelmente divertido, e isso é algo que eu não esperava. Pelo PV eu imaginava que a série seria puro drama, mas o primeiro episódio me pegou de surpresa. Ela tem um clima levinho e gostoso de acompanhar que sempre me fazia terminar o episódio com um sorriso no rosto. Acompanhar YOI também foi uma experiência divertida porque convenci minha irmã a assistir, então tinha alguém com quem conversar. E claro, acompanhar os comentários sobre a série na internet também foi uma experiência e tanto. Nunca imaginaria que um anime sobre patinação seria um dos mais populares do ano e provocaria tanta comoção!
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Victor |
E agora vou mudar um pouco de enfoque para falar sobre Yuri!!! on Ice e a patinação real, com algumas reclamações que ninguém quer ler e um monte de links.
Diferente de boa parte dos animes de esporte, YOI segue uma linha bastante realista. Não há superpoderes, técnicas incríveis surgidas do nada etc. Todos os programas mostrados seguem as regras atuais da patinação, aparentemente com o mesmo sistema de pontuação, as competições de que os personagens participam existem mesmo e as regras para classificação são as mesmas. Como fã de patinação, fiquei muito feliz em ver esse universo transposto fielmente para as telas.
No entanto, tenho que apontar algumas incongruências. A primeira é que no universo do anime o Grand Prix Final parece ser a competição mais importante do mundo. Na vida real, o GPF é importante, sim, mas não tão importante quanto o Mundial e as Olimpíadas (e talvez o campeonato Europeu e o 4 Continentes?). Então é um pouco engraçado ver o Yuri falando do GPF como sua grande meta como se tudo acabasse ali. A explicação para a importância dada ao GPF provavelmente é que tanto o anime quanto a competição são transmitidos pelo mesmo canal, então focar nela é uma forma de puxar sardinha para o canal. É interessante notar que o anime começou a ser transmitido quando a temporada de patinação se iniciava e terminou apenas uma semana depois do GPF real. Para quem acompanhou os dois foi uma experiência curiosa. (Outra incongruência: os patinadores de YOI são muito mais consistentes que os da vida real, hahaha. Cadê os vários tombos e "pops"? Cadê os zayak?).
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JJ Style! |
A segunda incongruência é algo que me incomodou bastante: a inconsistência das pontuações. No começo eu estava achando tudo bastante realista, as pontuações condiziam com o que tinha sido apresentado. Até chegar a Copa da China e o Pichit superar os vinte pontos de desvantagem que teve no programa curto e vencer a competição, sendo que o Yuri não cometeu erros tão terríveis assim e, pelos saltos mostrados, tinha um programa mais difícil. Mas ok, não vimos as apresentações completas, deve haver alguma justificativa. Aí chega o programa curto do GPF e tanto
o Yurio e o JJ ganham pontuações acima do que seria possível dado os saltos apresentados. Não dá para levar a sério! u__u
O que me deixou irritada nesse caso das pontuações é que dá para ver que há muito trabalho e pesquisa por trás de YOI. As criadoras aparentemente são fãs de patinação, então custava fazer alguns cálculos e não exagerar tanto nas pontuações?
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Victor em estilo Johnny Weir |
Por outro lado, me irritou um pouco a tão repetida ideia espalhada por aí de que o Yuri foi inspirado no Yuzuru Hanyu, sendo que a única coisa que vejo em comum neles é a admiração por um patinador russo. A carreira do Yuri provavelmente foi baseada na carreira do Tatsuki Machida, e
as semelhanças são demais para negar. A personalidade do Yuri e seu estilo de patinar devem ter sido inspirados por diversos patinadores, além de ter muito de criação própria. O mundo da patinação já é yuzucêntrico demais, então parem de colocar mais Yuzuru onde não devem! u__u
E agora é o momento de encerrar esse texto que ficou muito mais gigantesco do que eu esperava sendo que nem falei sobre algumas coisas que queria falar (não deu para abordar as questões de gênero no anime, por exemplo, mas isso foi bem tratado
aqui, então leiam. Também falei menos das influências dos patinadores reais no Yuri, mas acho que ninguém quer ler sobre isso. E esqueci de falar que queria ver mais patinadores japoneses no anime, porque uma coisa que eu amo na patinação é o companheirismo entre a equipe japonesa!). Por mais que tenha falado meio mal e não ache que a obra mereça todos os elogios que vejo por aí, eu gostei bastante do anime e estou bem ansiosa para uma possível segunda temporada. Espero que você, leitor, tenha conseguido chegar ao fim do post sem se aborrecer demais, assim como espero que todos os fãs de YOI comecem magicamente a gostar de patinação para que tenhamos uma multidão para sofrer e reclamar das pontuações e dos patinadores de quem não gostamos.
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Treinando para a ice dance! |