sábado, 27 de outubro de 2018

Anime: Aoi Bungaku Series


Título original: 青い文学シリーズ
Estúdio: Madhouse
Ano: 2009
Nº de episódios: 12

Aoi Bungaku é um anime que adapta alguns contos e romances clássicos da literatura japonesa para o formato animado. Cada história tem direção e design feitos por pessoas diferentes, o que gera uma boa mistura de estilos visuais e narrativos. O problema nisso é que às vezes o contraste de tom é muito grande entre uma história e outra, e o resultado acaba sendo meio irregular.

Como eu já tinha lido O declínio de um homem antes de começar a assistir ao anime, decidi que veria cada episódio apenas depois de ler a obra em que ele se baseia. Por isso, demorei uma pequena eternidade para terminar de ver a série. Infelizmente, não posso confiar muito na minha memória para relatar minhas impressões dos primeiros episódios, então tenho pouco a dizer sobre eles, mas vou tentar comentar sobre cada história e tecer breves comparações com as obras literárias.


O declínio de um homem (episódios 1 a 4)
Baseado no romance de Osamu Dazai, livro com elementos autobiográficos que conta a história de um homem que se sente alienado das outras pessoas desde pequeno, criando máscaras para si e, mais tarde, se entregando ao álcool e à depressão.

O anime adapta o romance de forma não-cronológica, o que torna a história um tanto confusa, mas essa confusão combina com o clima angustiante do livro e o anime retrata bem o tom sombrio e pesado. O character design foi feito pelo Takeshi Obata, de Death Note, o que faz com que o protagonista seja a cara do Light.


Sob as cerejeiras em flor (episódios 5 e 6)
Baseado no conto de Ango Sakaguchi, em que um homem vive isolado no meio das montanhas, assaltando os viajantes. Um dia ele encontra dois homens acompanhados por uma linda mulher e os mata, raptando a jovem para ser sua esposa. No entanto, ela é uma mulher exigente e caprichosa e começa a manipular o homem.

O conto tem um clima misterioso e de loucura que é arruinado pelos toques cômicos exagerados do anime. Os personagens SD e as piadas sem graça não têm nada a ver com a seriedade do conto original. No entanto, tirando isso, é uma adaptação razoável e uma história interessante.


Kokoro (Coração) (episódios 7 e 8)
Baseado no romance de Natsume Soseki, um dos livros mais conhecidos da literatura japonesa. Nele, um jovem se torna amigo de um homem mais velho, a quem ele chama de Professor, que parece carregar um fardo que não compartilha com ninguém.

O anime optou por adaptar apenas a última parte das três do romance, focando no passado do Professor e em sua traição, em vez de seu arrependimento e solidão futuros. Além disso, alguns personagens apresentam personalidades bem diferentes das do livro. O primeiro episódio conta a história do ponto de vista do Professor e o segundo, de seu amigo K. Boa parte desse último não tem muito a ver com o livro. Se eu não tivesse lido o romance, talvez tivesse gostado mais da versão animada, porque a história é boa e o jeito que ela é contada é intrigante. Porém sinto que não é uma adaptação muito eficaz, pois a história perdeu sua essência.


Corra, Melos! (episódios 9 e 10)
Baseado no conto de Osamu Dazai, que por sua vez é baseado na balada "Die Bürgschaft", de Schiller. O conto mostra a amizade entre dois homens: Melos e Selinuntius. Ao tentar assassinar o rei, Melos é pego e condenado à morte. Ele implora que o rei adie sua execução por três dias para que ele possa comparecer ao casamento da irmã e diz que seu amigo ficará em seu lugar enquanto isso. Se ele não voltar, o amigo será executado. Melos comparece ao casamento e, depois, tem que correr para voltar a tempo, superando obstáculos para salvar o amigo.

Quando fui ler as reações a esse episódio no My Anime List, fiquei supresa em ver que a maioria das pessoas amou. Eu achei a história meio mal construída, os personagens não muito convincentes e o tom melodramático demais. O anime mistura a história do conto do Dazai com o drama de um escritor que se sente traído por um amigo e sofre para escrever o roteiro da peça sobre o Melos, criando um paralelismo entre a situação dos dois. O character design é muito bonito, mas todo o drama não me convenceu.


O fio da aranha (episódio 11)
Adaptado a partir do conto de Ryunosuke Akutagawa, mostra um ladrão que foi parar no inferno. Como ele teve um único ato de bondade durante a vida, ao poupar a vida de uma aranha, o fio da aranha é baixado até ele, dando-lhe a chance de subir por ele e deixar o inferno. Porém, ao ver outros mortos tentando subir também, ele age com egoísmo e os impede, o que faz o fio se partir e ele cair de volta ao inferno.

A grande diferença entre o anime e o conto é que na obra literária é Buda quem se apieda do ladrão, enquanto no desenho as coisas não são explicadas e só vemos a aranha em ação. O modo como o inferno é retratado é muito interessante, como um mundo psicodélico saído de um pesadelo, mas esse foi o único momento realmente marcante do episódio.


Tela do inferno (episódio 12)
Também baseado em um conto do Akutagawa, esse episódio partilha do mesmo universo do anterior, um reino governado por um tirano, e mostra um pintor muito talentoso que recebe do rei o trabalho de pintar nas paredes da câmara mortuária real o reino em todo o seu esplendor. Indignado com a crueldade cometida contra o povo, o pintor decide retratar o reino como ele o vê: como o inferno.

Esse foi um caso em que eu gostaria que o anime tivesse sido bem fiel ao conto, porque eu adorei a obra literária e senti falta da ambientação na corte imperial do período Heian. O protagonista do conto também tem personalidade e motivações muito diferentes das mostradas no anime, sendo muito mais cruel e obcecado com sua arte, que foi algo que o anime não mostrou muito, transformando-o em uma espécie de justiceiro e preferindo focar na figura tirânica do rei como o "vilão". No final, acho que o anime mudou bastante coisa importante do conto, mas ainda conseguiu criar uma história bastante interessante.

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No geral, é uma antologia com altos e baixos. Dá para notar que algumas obras receberam mais atenção do que outras, seja no número de episódios dedicados a elas ou nos valores de produção. Preferi os episódios mais sérios, que fugiram do estilo mais caricato da maioria dos animes, como O declínio de um homem. Se nem todos os episódios me agradaram, pelo menos pude conhecer obras literárias que eu talvez não lesse de outra forma e isso fez a experiência valer a pena.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Randomicidades do mês: setembro/2018

Estou procrastinando esse post por pura preguiça faz um tempo, mas vamos lá.

Livros lidos


A arte de produzir efeito sem causa - Lourenço Mutarelli
Tenho vontade de ler esse livro desde que vi o filme Quando eu era vivo, que se baseia nele. O livro é sobre um homem, Júnior, que volta para a casa do pai após largar a mulher e o emprego. Desorientado e sem motivação, ele oscila entre a sanidade e a loucura. Achei bem interessante e gostei do estilo de escrita do autor.
Nota: 3,5


Everything I Never Told You - Celeste Ng
O livro mostra uma família que sofre com a morte de Lydia, a filha perfeita, na visão de seus pais. O acontecimento reabre antigas feridas e leva todos a refletirem sobre o que poderia ter levado a garota a isso. Gostei bastante do livro, mas algumas coisas me incomodaram, como alguns personagens (o pai e a mãe, basicamente) meio unidimensionais demais.
Nota: 4


Os casos de amor de Nathaniel P. - Adelle Waldman
Nate é um escritor promissor que têm uma vida social agitada cheia de casos de amor passageiros. Ele é um cara moderno e sensível às injustiças do mundo, mas isso não quer dizer que ele não é egoísta, principalmente quando se trata das mulheres com quem ele sai. O livro é elogiado por ser um retrato fiel de certo tipo de homem e talvez ele realmente seja, mas quem quer ler sobre esse tipo de gente? Talvez se eu conhecesse homens parecidos com o Nate ou me importasse mais com relacionamentos, eu achasse o livro mais interessante.
Nota: 2,75


Os vestígios do dia - Kazuo Ishiguro
O mordomo de uma grande casa inglesa tira uns dias de folga para viajar pelo país e reencontrar uma amiga que fora governanta na mesma casa. Na viagem, ele rememora o passado e reflete sobre as questões de seu trabalho. Gostei da escrita do autor, que transforma alguns trechos que poderiam ser enfadonhos nas mãos de outro escritor em algo interessante. Também gostei da narração em 1ª pessoa do mordomo, formal e diplomática, que mostra a dificuldade do personagem de deixar de lado sua "mordomice" mesmo ao escrever um relato pessoal.
Nota: 4,25


O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe
O livro conta a história de algumas pessoas que parecem fadadas à solidão, mas que se encontram e se unem. A linguagem é poética e bonita e eu a teria apreciado mais se não estivesse com tanto sono durante as noites em que li. Como não estava esperando gostar muito do livro, acabei gostando.
Nota: 3,5

Contos


Entre estantes - Olívia Pilar
Conto curtinho sobre uma garota no 1º ano da faculdade que se sente deslocada e costuma se refugiar na biblioteca, onde conhece uma garota por quem se sente fascinada. É um conto bonitinho, mas os personagens e seu relacionamento não são desenvolvidos o suficiente para eu me importar com eles e no geral não vi nada de muito interessante.
Nota: 3


De todos os motivos - Vitor Castrillo
Outro conto bonitinho, dessa vez sobre um garoto que questiona se seu relacionamento com o melhor amigo é algo mais do que amizade. A história é narrada de forma bem-humorada e a relação entre os dois personagens é extremamente fofa.
Nota: 3,5

Séries e animes


Hoozuki no Reitetsu 2 (parte 2)
Gosto bastante da ideia, do visual e dos personagens desse anime, que mostra um grupo de funcionários do inferno japonês, com foco em Hoozuki, um demônio que leva seu trabalho muito a sério. Meu problema com ele é que não sei se foi porque me cansei um pouco do humor depois de duas temporadas ou se a série foi ficando mais irregular com o tempo, mas achei cada vez menos graça nas piadas. Sempre tive certa dificuldade em entender parte do humor de Hoozuki porque ele faz muita referência a lendas japonesas que desconheço, mas aqui não consegui ver graça mesmo em piadas que não dependiam de referências externas. O anime começou com um episódio que eu adorei e terminou com alguns bons episódios, mas no meio teve muitas coisas de que não gostei e tive que me forçar a terminar de assistir.
Nota: 2,75


Mozart in the Jungle
Gosto bastante de música clássica, por isso essa série sobre os membros de uma orquestra sinfônica tinha tudo para me agradar. E agradou. Os episódios são muito gostosinhos de assistir, é engraçado, tem muita música, tem um bom equilíbrio entre mostrar os dramas pessoais dos personagens e os seus trabalhos no meio musical. Porém, mesmo com longos intervalos entre uma temporada e outra, fui enjoando um pouco dos dois protagonistas e na última temporada já não estava ligando muito para eles, o que é uma pena.
Nota: 3,5

Filmes


O sacrifício do cervo sagrado
O diretor Yorgos Lanthimos é conhecido por seus filmes meio estranhos. Esse talvez não seja tão estranho assim, mas ainda assim é bastante original, desconfortável e impactante. É meio difícil contar sobre o que é o filme, mas, de forma resumida, ele é protagonizado por um cardiologista bem-sucedido que tem uma família normal. Ele mantém contato com o filho de um ex-paciente, agindo como uma figura paternal para o menino, porém, essa proximidade abala o equilíbrio da família do médico.
Nota: 4


A ganha-pão
O estúdio Cartoon Saloon vem produzindo animações muito bonitas visualmente e com temáticas variadas. Em A ganha-pão, que se passa no Afeganistão, acompanhamos Parvana, uma menina que passa a se vestir de menino para sustentar sua família depois que o pai é preso pelo talibã. Como já era de se esperar, o filme mostra os abusos cometidos contra a população e a falta de liberdade das mulheres. Entremeada à trama central, há uma história fantasiosa contada por Parvana para seu irmãozinho, mas não gostei muito dessa parte.
Nota: 3,75


Complicações do amor
Um casal em crise recorre à terapia e, por recomendação do terapeuta, vai passar uns dias em uma casa de férias para sair da rotina. Após um início promissor, em que eles parecem recuperar a relação dos velhos tempos, eles notam que algo muito estranho está acontecendo na casa. O título do filme sugere uma comédia romântica ou algo parecido, mas o filme passa bem longe disso e é um tanto insólito.
Nota: 3,75


Cidadão Kane
Esse é um desses clássicos presentes em todas as listas de melhores filmes da história. O filme parte de relatos de pessoas que o conheceram para investigar a vida do magnata do jornalismo Charles Foster Kane. O filme foi bastante inovador para a época, tanto no estilo narrativo quanto nas técnicas cinematográficas, mas sinceramente, eu esperava algo mais dele. O tema tratado não me interessou muito.
Nota: 3


Curtas


Harmonie
Um garoto gosta de uma garota da sua classe. O problema é que ela faz parte do grupinho dos populares e parece inatingível. Ao ouvir uma bela melodia vindo do celular dela, ele, que tem ouvido absoluto, vê uma chance de se aproximar dela e acaba descobrindo que apesar de estar sempre rodeada de amigos, ela também se sente apartada dos outros. Apesar de a base da história ser bem realista, o anime também traz elementos oníricos na forma de um sonho recorrente que a garota tem e que o garoto visualiza ao ouvir a canção, o que é um dos diferenciais da obra. Não fiquei muito satisfeita com o final da história, porque por mais que os dois personagens tenham uma conexão, parte dela se dá devido a um mal-entendido.
Nota: 3


Taifuu no Noruda
Outro desenho do estúdio Colorido (o outro é Hinata no Aoshigure) que tem visual exuberante e uma história não tão interessante. Nele, um garoto encontra uma garota misteriosa enquanto um tufão violento atinge sua cidade. A garota parece estar em risco e o menino decide ajudá-la. O filme tem menos de meia hora e tenta criar uma história para a garota que é impossível desenvolver de forma convincente nesse tempo. Ou seja, temos um enredo que não é muito bem explicado e personagens com os quais é difícil se importar. Pelo menos o filme é bonito.
Nota: 2,75

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E vocês? Leram ou viram algo interessante no mês passado?